Valeu a pena o Estado gastar €236 milhões em hemodiálises?
- Virgílio Azevedo
- 22 de ago.
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Quase 13.000 doentes fizeram hemodiálise em 2024, tendo o Serviço Nacional de Saúde financiado 98,6% dos tratamentos, que custaram €18.285 por doente
VIRGÍLIO AZEVEDO
O Serviço Nacional de Saúde (SNS) financiou com mais de 236 milhões de euros os 12.907 doentes que fizeram tratamento de hemodiálise no ano passado, segundo dados divulgados pela Entidade Reguladora da Saúde (ERS). Este valor equivale a uma despesa por doente de €18.285/ano ou de €1524/mês. No final de 2024, existiam 106 unidades de hemodiálise privadas e sociais, maioritariamente nas áreas metropolitanas do Porto e de Lisboa.
Face a este financiamento tão elevado, a pergunta é inevitável: vale a pena gastar tanto dinheiro neste tratamento para prolongar a vida dos doentes com insuficiência renal? É que os €236 milhões permitiriam, por exemplo, construir 2780 habitações públicas, se usarmos os valores oficiais do Plano Nacional de Habitação.
Esperança de vida mais reduzida
A esperança de vida dos doentes tratados com hemodiálise é menor do que a da população em geral, embora a hemodiálise possa proporcionar uma vida mais longa e melhor do que sem tratamento. Vários estudos concluem que a esperança de vida varia conforme a idade do doente, as comorbidades - isto é, a presença simultânea de duas ou mais doenças na mesma pessoa - e outros fatores individuais, mas, em geral, pessoas em hemodiálise têm uma expectativa de vida reduzida em cerca de um terço em comparação com a população saudável.
Complicações e sofrimento durante os tratamentos
Os pacientes em hemodiálise são, aliás, mais suscetíveis a infeções. A sua vida não é nada fácil, porque têm de se deslocar pelo menos três dias por semana ao hospital para o tratamento, que demora de 4 a 7 horas. E depois dele ficam, em geral, muito cansados. As complicações mais comuns durante a hemodiálise são, por ordem decrescente de frequência, a hipotensão, cãibras, náuseas e vómitos, cefaleia, dor torácica, dor lombar, comichão, febre e calafrios.
Ou seja, a hemodiálise pode provocar sofrimento, por vezes grande, ao longo de anos. Com o tempo, alguns pacientes em hemodiálise passam a urinar menos ou até param de urinar. Isso acontece porque os rins vão perdendo as suas funções aos poucos: primeiro, a de filtrar, e depois, a de eliminar o excesso de líquidos.
Mas regressemos aos números. A média etária dos doentes portugueses em hemodiálise é de 68 anos e a esperança média de vida da população portuguesa aos 68 anos varia entre 15 e 16 anos, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística. Ou seja, uma pessoa que atinge a idade de 68 anos pode esperar viver mais 15 a 16 anos. Mas no caso dos doentes em hemodiálise, os estudos indicam que este valor se reduz para cerca de 10 anos. Por outro lado, um estudo feito no Brasil a 1009 pacientes que foram tratados em quatro hospitais do Estado do Rio Grande do Sul, concluiu que a sua hipótese de sobrevivência era de 91% ao fim do primeiro ano de hemodiálise, 64% ao fim de cinco anos e 41% ao fim de 10 anos.
Voltamos, por tudo isto, à pergunta inicial, mas agora formulada de outra maneira: vale a pena o Estado gastar tanto dinheiro nos tratamentos de hemodiálise para prolongar a vida dos doentes com insuficiência renal por alguns anos, mas em sofrimento e dependendo permanentemente de uma máquina?
Vida longa e vida plena
Na verdade, a questão é mais geral. Quando a Macrobiótica começou a ser popular no Ocidente, nos anos 70 e 80 do século passado, emergiu muito a ideia de que quem a praticasse teria uma esperança de vida maior, porque a palavra Macrobiótica, de origem grega, significa literalmente Grande Vida. Mas grande não é apenas no sentido de vivermos muitos anos, mas principalmente na plenitude que podemos sentir ao viver.
Aliás, a medicina convencional conseguiu aumentar progressivamente a esperança de vida da população, de tal maneira que hoje, a faixa etária que mais cresce na Europa é a das pessoas com 65 anos ou mais. Em Portugal, a esperança média de vida é de 81 anos, sendo de 83 nas mulheres e de 78 nos homens. E quem faz cem anos deixou há muito de ser notícia nos media, porque no nosso país há atualmente 3.282 pessoas com 100 ou mais anos, quando em 2011 havia menos de metade deste número.
Claro que o aumento da esperança de vida foi conseguido através do crescimento exponencial das despesas públicas na saúde em medicamentos, vacinas, tratamentos, cirurgias, próteses, transplantes e hospitalizações, que se está a tornar cada vez mais insustentável. E tomar 10 a 15 comprimidos por dia é hoje comum entre os idosos. A filosofia dominante dos serviços de saúde públicos é prolongar a vida das pessoas, mesmo que isso implique um sofrimento físico e psicológico permanente. Na prática, significa não deixar as pessoas morrer em paz. Todos nós já ouvimos pessoas muito idosas dizerem: “Já não estou cá a fazer nada…”
Mas afinal, o que é a hemodiálise?
Quando os rins deixam de funcionar, ocorre a insuficiência renal, uma condição grave onde os rins perdem a capacidade de filtrar o sangue e remover resíduos do corpo. Isso leva à acumulação de toxinas e excesso de líquidos, provocando vários problemas de saúde. Assim, a hemodiálise é um tratamento médico que substitui a função dos rins, filtrando o sangue de pacientes com insuficiência renal grave.
O procedimento envolve a remoção do sangue do corpo através de uma agulha, a sua passagem por um filtro artificial – o dialisador - e, em seguida, o seu retorno ao organismo através de outra agulha. As agulhas são conectadas com tubos ao circuito extracorporal da máquina e, através de uma pequena bomba, as linhas maleáveis do circuito extracorporal põem o sangue em movimento num circuito, conduzindo-o ao dialisador, após o que é devolvido ao organismo. Este tipo de diálise realiza a remoção extracorpórea de resíduos, como creatinina e ureia, e de água livre do sangue quando os rins estão em estado de insuficiência renal. E é uma das opções de tratamento para este problema, juntamente com o transplante renal e a diálise peritoneal.
A diálise peritoneal utiliza o revestimento do abdómen, o peritoneu, para filtrar o sangue. É uma alternativa à hemodiálise, onde a filtração ocorre fora do corpo. Pode ser realizada em casa, manualmente ou com o auxílio de uma máquina. Um cateter é inserido na cavidade abdominal. Depois, um líquido de diálise é introduzido no abdómen através do cateter. O peritoneu atua como filtro, permitindo a passagem de resíduos e excesso de água do sangue para o líquido de diálise. E após um determinado período, o líquido com as impurezas é drenado do abdómen.
Como curar a insuficiência renal com a Macrobiótica
O melhor cereal para fortalecer os rins é o trigo sarraceno, que pode ser comido em grão ou sob a forma de massa, a soba. A sopa de trigo sarraceno em grão com vegetais é também uma boa alternativa. Quanto às leguminosas, são o alimento por excelência para beneficiar os rins, em especial o feijão azuki, que deve ser usado regularmente. Os vegetais mais indicados são a cenoura, nabo, rábano e bardana. E nas bebidas, é o chá de Três Anos.
Em relação às algas, a kombu é a mais recomendada, porque fortalece o estágio energético Água, embora todas as algas representem esta energia. O marisco e os moluscos também nutrem a qualidade de Água, mas é preciso ter em conta que alguns problemas dos rins exigem uma redução do consumo de proteína animal. Quanto ao sal marinho integral, é muito rico em minerais que são fundamentais para o bom funcionamento dos rins, mas no caso de insuficiência renal, o uso de qualquer sal deve ser evitado. As castanhas e os frutos silvestres são também bons alimentos. E os métodos culinários mais adequados são os que usam mais fogo e maior tempo de cozedura, em especial salteados, tempura e assados.
O tratamento da insuficiência renal passa também pela aplicação de compressas de gengibre nos rins. E pelo desenvolvimento de atividade física mais intensa, como artes marciais, por exemplo, porque os problemas dos rins estão ligados a estados emocionais como o medo e a ansiedade.
Em contrapartida, além do que já foi referido, deve-se evitar o excesso de líquidos em geral, incluindo a água, bem como gorduras em excesso, mesmo que sejam óleos de boa qualidade, e ainda açúcar, café, batatas, beringela, tomate, queijo, espinafres, frutos tropicais, alimentos e bebidas frias.
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