Chef Marco Fonseca: “Estou a apostar mais na atividade empresarial e vou lançar a Vegplanet, uma nova marca para o mercado da grande distribuição”
- Virgílio Azevedo
- 17 de set. de 2024
- 6 min de leitura

Tens uma atividade muito diversificada, que passa pela formação em culinária macrobiótica presencial e online nas redes sociais em vários eventos e escolas, como a Umami -Natural Cooking and Contemporary Macrobiotics e a Azuki - Escola Macrobiótica. Mas agora estás mais concentrado na tua empresa, através da marca BeatRoot. Porquê?
Estou a apostar mais na atividade empresarial porque é uma forma de eu assegurar a minha rentabilidade e é uma porta aberta que está no mercado, uma vez que as pessoas estão a migrar para uma alimentação cada vez mais saudável, e há falta de opções neste mercado, numa perspetiva macrobiótica. Ou seja, estamos a falar de alimentos exclusivamente vegan, mas que para além disso são alimentos feitos com algum rigor em termos de qualidade, mais integrais, com ingredientes mais completos, uma alimentação mais verdadeira e não aqueles substitutos que estamos a ver aí a aparecer no mercado, que são vegetais, vegan, mas altamente processados em termos industriais e, por isso, não são tão saudáveis para nós. E como há essa abertura e essa falta no mercado, foi por aí que eu me foquei, para desenvolver novos produtos.
Que são para já os hambúrgueres, as almôndegas, o falafel e os croquetes vegan congelados…
Exatamente. A empresa é a Vegplanet, que tem a marca BeatRoot, e agora vamos lançar uma nova marca, que aparecerá no mercado dentro de poucas semanas e que se chama mesmo Vegplanet. É uma marca vocacionada para o mercado da grande distribuição (redes de hipermercados e supermercados), para o chamado canal Horeca (hotelaria, restauração e cafetaria) e para o catering, ao contrário da BeatRoot, que é mais dirigida às pequenas lojas, às lojas da especialidade. Portanto, a marca Vegplanet será dirigida a um público menos exigente e simplificámos um pouco as receitas, porque as receitas na marca BeatRoot são muito elaboradas, com ingredientes “premium”, como quinoa, molho de soja, mostarda Dijon, figos secos, etc. Por isso decidi fazer uma versão mais económica, porque o público potencial não é tão exigente ao nível dos ingredientes, é mais exigente ao nível da ética e do preço. Mas claro que mantemos a nossa linha, que é fazer os nossos produtos a partir de alimentos naturais, não processados, a partir de cereais integrais, leguminosas, etc. No fundo, esta atividade empresarial é uma forma de eu garantir algum investimento para mim no presente e no futuro.
“Os produtos BeatRoot têm ingredientes “premium”, destinam-se às lojas da especialidade, enquanto a nova marca Vegplanet é uma versão mais económica, vocacionada para hipermercados, supermercados, catering e o mercado Horeca (hotelaria, restauração e cafetaria). Mas são sempre feitos a partir de alimentos naturais, não processados”
E quanto à área da formação, onde trabalhaste durante muitos anos?
Com a vinda da pandemia e a mudança das pessoas que dirigiam e dinamizavam o Instituto Macrobiótico de Portugal (IMP), parei um pouco na formação e agora não aposto tanto nela. Aliás, o facto de estar ocupado com a empresa retira-me tempo para outras coisas. A minha intenção sempre foi continuar a formação, mas num modelo mais feito por mim e não a partir das instituições, como o IMP, a Escola Macrobiótica ou outras. Neste caso também tenho algumas ideias de como desenvolver este trabalho daqui para a frente, a minha perspetiva mudou, quero ensinar a Macrobiótica simplificando muita coisa, adaptando aos tempos de hoje, tentando trazer uma perspetiva mais prática, mais acessível, porque como estava a ser ensinada é um bocadinho exaustiva, exige da parte dos alunos um grande investimento em tempo e disponibilidade, e quero fazer as coisas mais simples. No fundo, o objetivo é ter uma perspetiva mais aberta e chegar a mais gente, complementando o trabalho desenvolvido pelas escolas macrobióticas. De qualquer maneira continuo a colaborar com algumas escolas e pessoas, mas de uma forma mais pontual, seja na formação online ou na formação presencial, como é o caso da Azuki – Escola Macrobiótica, do Porto.

“Quero ensinar a Macrobiótica simplificando muita coisa, adaptando aos tempos de hoje, tentando trazer uma perspetiva mais prática, mais acessível, porque como está a ser ensinada é um bocadinho exaustiva, exige da parte dos alunos um grande investimento em tempo e disponibilidade”
E a escola Umami que fundaste vai continuar?
Sim, mas é basicamente formação online, com cursos gravados.
Ainda em relação à Vegplanet, porque é que a sede da tua empresa é na Idanha-a-Nova, no distrito de Castelo Branco?
Por questões que se prendem com apoios e vantagens em termos logísticos. O município da Idanha-a-Nova está dentro de uma Biozona, uma classificação nacional e da União Europeia, porque é um município ligado à produção de produtos biológicos, tanto a nível agrícola como empresarial, o que nos permite ter mais apoios nacionais e europeus, até porque é um município do interior do país e, por isso, a localização da Vegplanet na Idanha torna a nossa atividade mais fácil. Há a intenção de desenvolvermos mais atividades nesta Biozona, como utilizar nos nossos produtos ingredientes produzidos localmente, como leguminosas ou cereais, ou complementar a nossa atividade com a de outras empresas locais. No entanto, o nosso negócio é um negócio de escala, de grandes quantidades, e temos de assegurar que temos sempre os ingredientes biológicos disponíveis, e por enquanto nem sempre é possível a nível nacional, ainda temos de recorrer à importação.
"A minha empresa tem a sede na Idanha-a-Nova, dentro de uma Biozona, uma classificação nacional e da UE, porque é um município ligado à produção de produtos biológicos a nível agrícola e empresarial, o que nos permite ter mais apoios nacionais e europeus”
Onde são fabricados os produtos?
A nossa empresa contrata a produção a outras empresas espalhadas pelo país. A nossa intenção é pegar em linhas de produção de algumas empresas que se adaptam perfeitamente aos nossos produtos e que estão enfraquecidas. E ajudar e estimular outras empresas que não têm nada a ver com a nossa área de atividade, mostrando-lhes as oportunidades de negócio que existem na área dos produtos biológicos, vegetarianos e vegan, de modo a produzirem para nós. Ou seja, acabamos por acrescentar valor também a empresas já existentes. O objetivo é substituir a produção dessas empresas, que já estava fraca, por outra produção que está em crescimento e que tem potencial. E isso é bom para essas empresas, porque percebem que podem ter outro âmbito no seu negócio e outros clientes que trazem mais valor.
Portanto, a Vegplanet é essencialmente uma empresa comercial e logística.
Exatamente. Obviamente que a nossa intenção é integrarmo-nos cada vez mais numa zona que tem um potencial de crescimento e de apoios do município e de fundos europeus para nós. Toda esta iniciativa tem a ver com o facto de muito do meu trabalho estar ligado à comunicação de uma alimentação saudável, mais ecológica, e como traduzir isto na prática, isto é, em vez de estar a ensinar as pessoas a fazer, termos já as coisas feitas. Acaba por ser mais fácil para muita gente incorporar na sua dieta alternativas, porque nem toda a gente pode andar a tirar cursos de cozinha.
Qual é a tua perspetiva sobre a situação do movimento macrobiótico em Portugal?
Está um pouco estagnado, tínhamos uma referência muito forte, que era o Francisco Varatojo e o Instituto Macrobiótico de Portugal, mas neste momento mantêm-se no essencial os mesmos cursos e programas do modelo que o Michio Kushi criou há muitos anos a nível de escolas, que pouco tem evoluído. O que eu constato é que as abordagens vegetarianas e vegan têm crescido muito mais em visibilidade do que a Macrobiótica, sendo que a Macrobiótica tem uma mensagem muito importante, muito verdadeira e muito útil, mas questiono-me porque é que não está tão difundida como outros movimentos. Acho que falta inovação e adaptação aos novos tempos, à realidade que hoje estamos a viver. Mas a verdade é que há muita oferta, quem quiser estudar a Macrobiótica tem muito por onde escolher.
“O movimento macrobiótico está um pouco estagnado, falta inovação e adaptação aos novos tempos, à realidade que hoje estamos a viver”
A Macrobiótica é mais difícil do que o vegan em termos de comunicação?
Sim, porque é uma abordagem mais completa, mais profunda, mete filosofia, mete a parte prática, não é tão fácil, à partida, de comunicar como o vegan, que é apenas uma ética e uma exclusão de alimentos, não tem a noção de qualidade e de quantidade, nem uma ordem a nível da alimentação como há na Macrobiótica.
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